BRASÍLIA - A
Procuradoria-Geral da República (PGR) deve pedir ao Supremo Tribunal Federal
(STF) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja investigado no
principal procedimento da Operação Lava-Jato na Corte, o inquérito-mãe que
apura crime de formação de quadrilha no esquema de desvios de recursos da
Petrobras. O grupo de trabalho responsável pela Lava-Jato na PGR prepara os
primeiros pedidos de abertura de inquérito a partir da delação premiada do
senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), já homologada pelo STF e tornada
pública no último dia 15 de março. Parte das citações a Lula seria encaminhada
ao procedimento já existente, conforme um pedido em análise no Ministério
Público Federal. O ex-presidente é o político mais citado na delação de Delcídio:
são, ao todo, oito acusações ao petista.
A Lava-Jato já
resultou em quase 40 inquéritos abertos no STF para investigar autoridades com
foro privilegiado e outros políticos conectados às acusações apuradas.
O inquérito número
3989, com 39 políticos investigados, é considerado como o principal em curso no
STF, dentre os procedimentos relacionados à Lava-Jato. É o único que investiga
o crime de formação de quadrilha e que conecta parlamentares do PP, do PMDB e o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em Curitiba. Este inquérito-mãe é
visto como oportunidade para se investigar o suposto funcionamento de uma
organização criminosa no fatiamento das diretorias da Petrobras entre partidos
da base aliada, com pagamentos de propina a partir de contratos superfaturados,
em troca de suporte político a diretores.
A delação de
Delcídio já foi fatiada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no
STF, em 19 petições. Este é o passo prévio ao pedido de abertura de inquéritos.
No caso de Lula, fontes próximas às investigações consideram “provável” tanto o
pedido de remessa de acusações ao inquérito-mãe quanto solicitações de novos
inquéritos. Esta possibilidade já existia antes da delação de Delcídio.
Investigações em curso apontavam para uma conexão de Lula — sem foro
privilegiado — a irregularidades associadas a autoridades com foro, o que
motivaria uma apuração em conjunto no STF.
Nos depoimentos da
delação, Delcídio chegou a afirmar que o ex-presidente foi um “grande ‘sponsor’
(patrocinador) dos negócios do BTG”, como consta no termo de colaboração número
16. A narrativa mais detalhada diz respeito à tentativa de se evitar a delação
do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O ex-líder do governo ficou preso
preventivamente por tentar interferir na colaboração de Cerveró, com proposta
de ajuda financeira a familiares e até mesmo um plano de fuga para o
ex-diretor. Segundo Delcídio, partiu de Lula um pedido para que intercedesse
por José Carlos Bumlai, lobista preso e amigo do ex-presidente.
Fonte - oglobo